De 11 a 13 de setembro, a Casa da Juventude realizou o Seminário sobre Práticas Pedagógicas da Educação Juvenil, buscando promover o diálogo entre educadores/as de adolescentes e jovens e discutir sobre as práticas pedagógicas de formação integral e de educação popular a partir da condição juvenil.
Durante os estudos, foram aprofundados temas como: os desafios das juventudes, as experiências de formação em educação popular; o poder de mobilização de, para e com a juventude e a formação integral no trabalho com jovens. Para discutir e escutar as diferentes realidades das juventudes, cinco jovens relataram suas experiências.
Érika Pereira, 20 anos, apresentou sua realidade de jovem negra a partir de sua experiência como integrante do Coletivo de Jovens Negras - CONEGRI, formado por jovens alunas afro-descendentes do Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia (antigo CEFET).O CONEGRI é um grupo que se reúne para estudar, discutir e divulgar temáticas como a cultura afro-brasileira, racismo, etc. Segundo Érika, enquanto participante do grupo, ela encontrou um novo sentido para estudar e participar da escola. “Não me encontrava na sala de aula. Nunca achei que iria entrar na faculdade. Nós, jovens, queremos emprego, sair da pobreza e da preocupação sobre o que comeremos amanhã. No grupo a gente se encontrou enquanto jovens, temos vidas parecidas e nos reconhecemos verdadeiramente em um processo de aprendizado. Participar do CONEGRI é uma experiência única, verdadeira, em que a gente aprende a ter convicções e a não se iludir. O problema é que no CEFET não conseguimos nenhum apoio, só encontramos gente para nos deixar para baixo. Até os/as professores/as não dão incentivo, dizendo que não vale a pena ficar perdendo tempo...”
Outra realidade apresentada foi a do jovem Lourivan, de 19 anos, membro do projeto de vídeo popular do Real Conquista, grupo que trabalha filmes com temáticas do cotidiano da juventude, como drogas, falta de lazer, etc. “A realidade da população do Real Conquista é muito triste. O governo disse que poderia contribuir com as pessoas que ocuparam o Park Oeste, contudo, o que aconteceu foi uma violência, já que policiais tiraram as nossas casas, derrubando tudo, espancando e matando pessoas. Depois levaram a gente para um ginásio, sem nenhuma condição de higiene e a gente ficou lá por quase um ano. Ficamos depois três anos em barracas, em um lugar provisório, vivendo como nas favelas. Hoje estamos no Real Conquista, mas os/as jovens do bairro são muito descriminados/as e oprimidos/as. A polícia nos amedronta e nos aborda como se todo mundo fosse criminoso...”
Edijales de Brito, do Grupo de Trabalho Amazônico - GTA/RO, também trouxe sua vivência enquanto jovem da Amazônia. “Encontrei com uma professora do primário e ela se assustou porque eu estava vivo. Ela achava que eu ia morrer cedo. Cheguei a roubar, cheirar cola, fui vítima e vitimizador. Foi quando conheci o movimento hip hop e consegui me afastar da violência. Também comecei a participar do movimento estudantil e tentei transpor sua metodologia para o hip hop, o que não deu certo, já que são realidades diferentes. Foi então que começamos a pensar o movimento hip hop a partir do povo amazônico, discutindo temas como os conflitos entre indígenas e imigrantes. O que a população de Rondônia vive é a destruição de sua identidade. A partir do Movimento Hip Hop da Floresta queremos olhar para a região como um local construído por pessoas como sujeito de direitos, com sua identidade e sua cultura próprias”.
Marcelo, do Grupo Sertão, começou sua atuação na universidade para pensar a instituição de outra forma, como um lugar onde as pessoas possam apresentar sua sexualidade sem preconceitos. O Sertão é um grupo independente, sem hierarquias e realiza atividades de empoderamento e de conscientização. “Após a atuação na universidade, o Sertão foi para a cidade para que ela ouvisse as demandas das diferentes sexualidades. Os/as jovens homossexuais não têm acesso às boates, cinemas e outros espaços de convivência. São vítimas do preconceito de forma violenta. É preciso um outro olhar sobre a sexualidade, com uma ética voltada para o consentimento: se as pessoas estão juntas, é porque querem. É preciso ainda, formar redes, ouvir e promover o diálogo entre os diversos movimentos.”
A realidade da juventude rural foi apresentada pelo jovem Adriano, 19 anos, da Pastoral da Juventude Rural - PJR. Segundo ele, “cada vez aumenta o número de jovens que saem da roça para as cidades para estudar e trabalhar. A propaganda em todos os meios de comunicação e na sociedade é que a roça é ruim, atrasada. O meio rural ficou velho, são poucos os/as jovens que continuam na roça. Outro problema é que na escola rural as crianças crescem tendo o mundo urbano como referência porque não existem metodologias nem professores/as que abordam a realidade do campo. Assim, os/as meninos/as crescem tendo como referência o mundo urbano e acabam perdendo sua identidade. A PJR quer fazer diferente, indo na contramão do que a sociedade coloca, estimulando e conversando com o/a jovem para que ele/a valorize suas raízes camponesas”.
As diversas realidades das juventudes marcaram o seminário e ressoaram durante todo o encontro, que seguiu com a apresentação de instituições que trabalham práticas pedagógicas de formação integral e de educação popular, como Fé e Alegria, Ação Educativa, Casa da Juventude Pe. Burnier, Programa Pró-Jovem, Movimento Hip Hop da Floresta Conselho Nacional de Juventude, Um milhão de Histórias e Instituto Polis.
Para pensar a formação integral no trabalho com as juventudes, Maria Zenaide Alves, do Observatório de Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais e Miriam Fábia Alves, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, trouxeram experiências e propostas de uma pedagogia das juventudes, voltada para suas diferentes realidades.
Ao final, o grupo reafirmou os vários questionamentos sobre as práticas pedagógicas da educação juvenil, avaliando positivamente o seminário, com perspectivas de continuar o diálogo e as discussões, ampliando a rede de relações e de ações conjuntas.Maiores informações do evento :
metodologia@casadajuventude.
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